terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ano novo


Um novo ano começa ou apenas um montante de acontecimentos que se repetem? Respostas, são muito práticas e ainda serão sempre respostas. O recomeço de um nada templário que se reusa e se extingue, revigora e fundamentalmente se retrata ao novamente. Uma democracia falida de súditos gladiadores. O raciocínio numa excelência de vícios e virtudes, outorgado paradisíaco do enfim, a taba desesperadora. Filhos de uma infindável batalha do nada com o algo zero, a estreita trincheira tratada a tiranos e tigresas, não bastasse o por vir obscuro e infinito da existência. As mentes vazias do pos guerra esperando um tiro ou uma ideia sem saber o esperar que seja aguardado. O doce pecado sobre a mortadela.
Não mais um amontoado de riscos numa folha ou num carbono, não mais, as prateleiras cheias de vida devem divinamente devastar os bolsos e bolsas e ainda serão ferozes inocentes. Ainda mais amedrontadoras deverão ser as espécies de contáveis e incontáveis soluções do esperar-se. Numa banalidade ressacada pinga ou ...pagne ainda sim estúpidas baleias num aquário. Estúpida em sê-la, talvez não, estúpidas em sua condição de pássaro engaiolado, talvez. Calar de tão faminto virou obra do todo dia e o saber basta-se em justiça do que é de ciência de todos. A ciência virou justiça, a manchete virou movimento, expressão do certo e voz.
Um ano novo começa ou um montante de acontecimentos que se repetem?
Um montante de anos que se repetem em novos acontecimentos ou começos.
Por um ponto, apenas um ponto, mas as respostas são muito práticas, muito.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

a uma tia



surpreendem-se os de fé dúbia,
enquanto os que já viram
atentam aos céus com intimidade
vulcanica, num exercício
simples e dinâmico
a prática do pensamento verdadeiro.
A dinâmica dos pés na areia,
nada mais sustenta se não o calor
da cobertura divina,
Benção!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

sexo para o café da manhã



Acordei enevoada de nos
embebida em sermos.
vestindo o fabuloso desejo
ainda tenaz e alerta carruagem de
sombras e tempos,
envolve ao desvendar.
Gelada, fria, densa, suave,
um simultâneo de momentos
e ainda nada.
Suave canto do envelhecer ao oposto,
é um sorriso a vigiar o descanso.

Deitada naquela cama impregnada de amor,
delírios, espasmos... atividades quase poéticas.
um suspiro de corrente elétrica e breve calor.
Aqui onde habita o sempre
é bom entrelaçar as pernas em ti.

Preparo nosso melhor cardápio:
sexo para o café da manhã.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sapatinho de boneca.




O sapatinho da boneca não anda pelos pés da boneca.
A memória de seus passos
não se lembra mais daquela casinha.
Essa total pele alva-branca
quase beira a translucidez romântica da extinção.
O calor pleno aos versos brandos
esvai-se, na mortalidade,
em sublimes pálpebras funéreas.
O pescoço de tão fino, chega mole
e desengonçado,
permite à cabeça os movimentos contrários.
Não distante dorme em ti
o calor do fogo extinto ainda respirando.
Aquele mesmo que sufocas silenciando
o arroubo da atitude.
Dorme você em noites serenas
tudo aquilo que pensas
e não se permite proceder.
Não se assuste nem espante
porque o verso lírico
só tem de errante
a mente que o pensa.
Saberás quando estiveres com os pés na lama
e teu sapatinho numa bela e vazia estante.
Peço Deus que lhe confronte com a realidade viva.
Todos os vermes te comendo a carne,
mostrando que apodrecera em vida.
A que não viveu por se fazer de morta,
a que continua latente
grávida de seu próprio ventre.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Licença Poética.



Policia Militar do Estado Rio de Janeiro,
Batalhão de Operações Especiais,
Coordenadoria de Recursos Especiais
e Polícia Civil,
Exército, Aeronáutica e Marinha.
Agora falta:
Câmara de Vereadores,
Diretoria de Órgãos Públicos,
Licitações Super faturadas,
Lobistas,
Maracutaias e Desvios de Verba,
Uso indevido da Máquina Pública,
Evasão de Divisas,
Colarinho Branco,
Indústria da Pirataria...
e aí? Quem dá mais???

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

encontrar hoje o agora de todo o sempre.

Encontrar hoje o agora de todo sempre
parece de inestimável apreço poder contar,
saber-se fiel e no todo esvair os por menores.
Encontrar a solução plena tem nada.
Construir o somente de soluçãoes tem nada.
Comungar a ciência de topázios e velas,
nada tem.
Nada tem que sua presença fundamental não transforme.
O inerente ao símbolo é a gota do que falta
pra fazer valer a simbologia do que é.
de incrível a novidade só traz a surpresa,
o resto é capricho.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

rapidinhas funestas


Soluções apoteóticas para o caos iminente
guardo as facas e o estilete, numa gaveta
que não tenho chave,
tenho medo, muito medo de um dia criar coragem.
_ * _
Não compreendo o valor de tanta solução
para se degustar o diário prato de merda cotidiano,
nem os sorriso de bom dia e ainda os de até amanhã,
esses assolam-me a existência.
_ * _
Não foi nada demais, só um dia ruim,
mas ele não devia ter me chamado pra sair.
Tenho superior completo, sou formada,
tenho direito a cadeia especial?
_ * _
Desembrulhando a fumaça que passou
reciclando o passaporte,
a esperança é a última que morre,
porque é a primeira a meter o pé.
_ * _
estarei lá com certeza,
adivinha???
não tava.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

hoje é feriado na ilha da Fantasia

Hoje é feriado na ilha da fantasia. O sol vai nascendo com preguiça. Um lençol amarelo que se estende sobre a areia. Um vento frio indo embora, por ali, cansado de ventar, pestanejando. Corcoveia agora uma brisa de manha preguicenta, de olhos fechados e braços abertos. Serpenteia uma onda comprida que abraça o nada areia a dentro.
Hoje é feriado na ilha da fantasia. Acorda, de cara amassada, um Tuí de Rabo Preto. Ainda “encocorado” pensa em erguer-se, encher os pulmões e alardear, com seu tuí potente, a chegada de outra manhã. Mas, tranqüilo e calmo, cerra novamente os olhos e adormece...
Hoje é feriado na ilha da fantasia. Uma pequenina folha prestes a abrir estanca. Ainda fechada ela medita. encontra Deus. Sua consciência sua sentença. Recosta-se em ancestrais porque ali não está sozinha.
Hoje é feriado na ilha da fantasia. O poeta se mexe na esteira, ouve uma chuva feita de vento na bananeira e suspira aliviado. Quando o primeiro pensamento começa a descobrir-se ele, com um sorriso canto-de-boca, vira de lado e faz que ainda tá apagado. Respira um suspiro lonnnnngo... de quem tá muito cansado... O poeta hoje quer a cabeça vazia, sem tela branco-lisa ou pena perdida.
Hoje é apenas feriado na ilha da fantasia.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pena, maldita pena

O que será de um artista sem a Pena?
O que será de um coração sem o sangue que lhe nutre de energia e vida?
Quantas outras infusões sofrerá esse bálsamo que me permeia a existência, chamado destino?
Material que me faltas não serás o dono de minha derrota. A esmera é tanta que meu improviso te espanta.
Abençoada seja a Santíssima Trindade da Arte em Cena: idéia, papel e... Pena, cadê a Pena? Maldita Pena!
Ó Senhor Máximo de Inspiração não me deixes aqui em desalento, manda-me socorro! Algum provento.
Quão mais vazia será essa picada de mata aberta nos ombros do destino?
Ó matéria que me extingue a imensa brasa ardente no peito de escrever. Repito que não guardarás minha rendição.
Pena que me falta, leia agora a voz desse poeta de verso e de prosa que fala como quem ta versando e rima quando ta conversando. Veja, ouça, Pena minha, sinta quanto de labuta esse poeta lhe dedica ao procura-la em meio a neblina.
As agruras de meu peito vão-se esvaecendo ao som do fúnebre réquiem-poema de versos ceifados da existência.
Garganta seca e esse papel branco-teso, dedos atrofiados e ressequidos vasculham no fundo da alma um resquício de Pena.
Uma pena torta, rachada e cambeta. Pode tá faltando pedaço e até roída na beira. Só não pode me fazer esperar a vida inteira pelo momento de sanear minha doideira num duto de idéia, papel e... Pena, cadê a Pena? Maldita Pena!
Peso de tonelada nos olhos e no peito, faca que me fere a carne sem socorro ou proveito. Derrota inevitável, assim ou de outro jeito.
Sufoco de não botar Arte em cena, sufoco de estar calado por me faltar a Pena.
Materialidade que desafiei ouça a rendição desse poeta, que queima em agruras passadas e poesias imaginárias, pensamentos tolos ocupando várias páginas.
Minha rendição acompanha chagas emocionais de busca e derrota.
A poesia comprida e toda torta repleta de curvas e bossa, nasceu na brisa da madrugada com a lua cobrindo-a de prata. Morre nesse mesmo instante no qual se fecha de nuvens um céu inconstante, um céu de idéia, papel e... Pena, cadê a Pena? Maldita Pena!...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Frente a tela o artista pensa

Frente a tela o artista pensa:
“...em que raio de ano mesmo eu nasci??... Hã... Continuo sem saber . Uma cor, preciso de uma cor... Não!!! Uma forma é melhor uma forma. Mamãe morreu eu era garoto, mas me lembro com clareza... Preciso de um azul claro-névoa de passado bem passadinho... Meu pai me deu a última surra eu já era barbado, fritei de vergonha, mas permaneci calado... O remorso já tem cor definida, é da cor da terra, suga tudo lá pra dentro... Uma vez eu desenhei um sol no chão da minha rua e o tempo que estava nublado, clareou. Talvez se eu fizer esse quadrado aqui mais redondo ele combine melhor com o triângulo, daquela ponta ali do outro lado, pertinho do baú de ouro... Droga de pia que não para de pingar, vizinho de reclamar, telefone de tocar, cigarro de apagar, leite de derramar, caneta de falhar, e bate o prego na parede, furadeira pra furar, pincel, rodo e tosse do vizinho pra escutar. Mas aqui eu tô tranqüilo, branco gelo bem-levinho, cor do ar da esperança, que entra esfriando, acalmando os batimentos e fica verde esperança-com carinho... minha avó me trazia chocolates e também uns badulaques, uma bola de espuma e eu quase virei um craque. Ai que saco essa tela quadrada, se eu usasse, talvez quem sabe, uma coisa mais oval
¾ Pára de pingar!!! Agora eu quero um roxo ódio, com um pouco de abóbora em cima pra ficar bem melancólico. Ônibus perdido, show esgotado, estádio lotado, metrô fechado, um momento guardado, choro acumulado, amor calado, sorriso salgado, olhos fechados. Droga não era pra ter isso na tela, mas que tela ainda há de ser pintada? Quais cores ainda não foram usadas? Que paixões ainda não foram vividas? Sonhos não sonhados, camas mal dormidas, flores de chegada, choros de despedidas, poemas não entregues, cartas não lidas, perfume de encontro, baladas de despedida... Essa é apenas mais uma, daquelas telas branco-lisa, que vai ficar lá no fundo do quarto tomando poeira, mais um sonho, nem apagado nem realizado.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

onde encontro.

Encontrei no tombo de um carinho, por assim dizer,
o explendor do singular.
o corriqueiro magistral
aporta numa viatura sem janela.
algo a funcionar pelo mundo dentro de si mesmo.
a inconfirmação do estado,
reboca toda sorte de esperança e glória.
Esse espectro de todo nebuloso é na realidade o vasto berço,
o papel coloriu a criança pra trazer os sonhos numa próxima esquina.
ou ainda que nada disso,
seja simplesmente refeição a mesa,
que nosso prato seja cotidiano
e tenhamos Felicidade para servir
a todos eles.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

satisfações, eu sou o Agora!



o tão pouco a bradar solene desfaz o contínuo espetáculo
são as algas que me põe impune, o seguir é fabuloso.
não engendro estações, contemplar aqui é somente.
nunca antes navegado o experimento de mim
força meus pulmões a viver, então tá,
vou ao norte retorquir o indizível,
entranhar-me no belo e no seno
do cartesiano ao popular
outro espectro de uma força
satisfações, eu sou o Agora!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

salvo



novas folhas pro desterrar das prosas
sou assim o pai do nada.
despedida agregadora,
um exemplo de lugar,
corre que o pasto é vasto.
de que outro pó me considera virgem?
nunca o toco nem por nada.
A benevolência solidária
ainda continua sendo meu norte,
no abraço da comunhão relusente
aqui se vai meu canto de morte.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

amiga madrugada



quem eram seus demônios na hora da correria?
Nunca soube responder essa pergunta.
Talvez a pressa,
o afobo a teoria do pânico instaurado,
de repente nenhuma coisa e ainda sim,
todas juntas, não sei bem onde.
na estrada que meu pé corria
havia apenas espaço para algumas coisas
desfrutar o sempre parecia
brincadeira de criança,
enquanto nunca as coisas chegavam a ser.
Esse pequeno efeito em desterro
fez ponte ao canto e a dança,
mas apenas assobios e pios,
enquanto pássaros e serpentes se entendiam,
presas e predadores se amavam
um eterno sempre me fisgou.
vou cantar pra lua cheia
em qualquer paragem que não a mesma
ou num mesmo estaleiro
que ainda não.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Poesia Espiral #3


ali mãe to vendo.


Alí, Mãe, tô vendo.
Qual outra parte de nos mesmos
seria capaz de merecer tão elevada
notícia de um avistamento?
Não o primeiro,
mas a outra perspectiva.
Sem dúvida que a seria.
nos conformes,
em roupa de gala, na estica.
exibo-me as vezes,
por puro pavonismo.
não obstante chama o Norte.
Atendo de acordo com sua veemência.
Existe um sorriso por detrás de todos esses dentes?
Sonho que sim.
Sem querer nada de volta
sinto a novidade efervescer em tópicos de vida e paz,
onde talvez a referida possua seus lugares adaptados,
reverberar pulsações enquanto colhemos carinho,
sei lá.
acordei com a sensação que algo ainda nos encantaria,
ou melhor ainda vai, que bõhn!
Mãe Gentil dos filhos todos,
olhai por nos,
Amém.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

adivinha


O encontro desses laços seria nada além de nó.
Somente ele se basta por dizer.
Nada mais o condiciona em existência que nó.
Notável, não?
Assim será esse lugar de todos nos.
Quer dizer, tomara, né!?
Depende, adivinha do que?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

é assim, Mãe?


Munido de todas as minhas economias
comprei uma belíssima aliança de noivado.
na falta de noiva lancei-a ao vento.
Pude ouvir o estalar dos cristais
assim que perdi o contato com a jóia.
É assim, Mãe, que se sentes?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

sob tua ingênua identidade


Sob tua ingênua identidade,
o verde já foi um sangrar fundamental de fardas e tecidos
Teu amarelo fundir infinito de dedais e agulhas sofisticadas
para cerzir fundilhos e meias sovadas.
a integridade de teu azul tão violentada e estripada,
quando suas meninas de doze, treze anos.
Tuas estrelas jazem no constante nevoeiro
de almas cinza e podres que regem seu translado.
Nem organizada nem plena.
teu não caminho atemporal estagna-se
no limbo dos acontecimentos.
Sim, também me dói,
no entanto falo de nos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

como quem se dá ao inimaginável


Como quem se dá ao inimaginável
não me surpreendo com a sujeira do coração humano.
deixo-me ser a falsa preferida dos leões,
dos seringais eternos aos rincões mais escondidos,
das planícies ao litoral,
deixo-me ser a falsa preferida dos leões.
Sou aquela a saber sem ter ciência.
Em polvorosa aflição lucrativa por detrás
de ternos gravatas ou de tailleur,
o cobiçado Cabral se deixa ser objetivo
para transformar-se em verbo
e verbo imperativo e imperador de si e de tudo.
Deixando a lírica de lado?
Que se foda esse bando de ladrão eleito!!!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

tem solução pra isso?

mesmo como é que se faz?
não sei e nem nunca o saberia,
ainda sim contei com intuitiva sobriedade.
como é tá bom, se ao contrário
o funcionamento comprometer-se
que seja feito de qualquer forma,
como der, Deus quiser,
ou que o Diabo assim permita.
todos aplaudiram minha decisão.
após ocorrido o fato,
dirigi-me diretamente ao sanitário,
afim de remendar o escorrido por minhas pernas afora.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

perfeição



a perfeição é infinita
e ainda sim tão minúscula
a ponto de caber
no toque sutil
de um verso de amor.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

algumas coisas já nascem prontas



Tava tão escuro alí.
Onde sua voz pingou
ou talvez um brilho apagou,
sei não.
Encontrar o peso que brilha
pode ser pesado demais.
Do sol fez-se mormaço,
horizonte,
conheço esses tons.
Corri fechar a janela,
mas o rompante bateu a porta
com o devido desprezo.
Atento.
Recorri ao caderninho,
algumas coisas já nascem prontas.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

nozes.



O adorável inesperado me faz refém
e como adoro a sensação do infinito.
Nesses pastos onde a beleza se derrama
faço meus os raios solares e os carinhos,
as andanças e o colírio cotidiano.
Em nome da ação coletiva do impossível,
na esperança do que vem,
entre espinhos e pálpebras,
ainda bem estarmos aqui,
eu e tu no país de nozes doizes.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

o casal ao lado


O que mais me incomodava não eram os gritos, o estalar dos tapas, ou a guarda da cama batendo na parede nem os solavancos do lustre, mas sim o silêncio pós orgástico. Aquele momento que eles deveriam estar abraçados, respirando juntos, compondo o pequeno musical do amor jovem e intenso, crente e eterno, de cheiros, carícias e luzes coloridas aos olhos fechados. Isso sim me incomodava demasiado, fazia instintivamente com que eu acendesse um outro cigarro na brasa quase instiguída do último trago. Esse era meu momento maior de pseudo comunhão com o casal. Imaginava-os largados nos lençóis ensopados arfando de espanto e tesão ainda, acendendo um cigarro cada um também e nesse ponto éramos um trio de pura paixão, fortaleza e distância.
Nesse dia, particularmente intrigante, algo me fez sentir diferente, talvez por ser uma terça-feira, meio da madrugada e o casal ainda fazia amor freneticamente, talvez pela amareles de meus dedos indicador e médio que nesse dia justo estavam ainda mais amarelo... por minha geladeira especificamente vazia de alimentos, insumos e acepipes afins. Somente alguns litros de vodka, cerveja, vinho e amendoins, apesar da diabetes, da pressão alta e da trombose e contando com toda sorte de venenos etílicos culpar o amendoim era um capricho. A lâmpada do banheiro acesa, única que funcionava na casa, trazia ao ambiente um sépia de aterrador a sufocante, trincando os vidros da janela e arranhando as unhas nas paredes.
Compadeci-me de minha degradação. Senti um nó na garganta e um aperto no peito, preciso desfazer esse estrangular. Servi-me de uma boa dose de vodka geladíssima, espremi meio limão na bicha e dei um choro de vinho para colorir a translucidez da consciência, mergulhei de um trago só e peguei uma cerveja. Cerveja de garrafa que lata é coisa de jovem. O panorama da sala era verdadeiramente aterrador, uma angústia que pairava no ar tão densa que poderia ser cortada a faca, mas mantendo o armamento no coldre, transgredi o recinto sento-me novamente. Percebi meu short encardido e puído, desci pelas pernas murchas e secas, estilhaçadas de exposição ao tempo e ao desequilíbrio emocional. Demorei um pouco na análise de meus calcanhares roxos e inchados, as unhas farinhentas e horrendas, de um amarelo lavado, quase branco, mas ainda sim amarelo.
Tantos lugares essas pernas passaram que não caberia num planeta, tantas aventuras mentais e meta físicas que num dicionário estariam no Z. Quando o silêncio corrosivo de meus vizinhos imperou, abri minha garrafa com a parte detrás do isqueiro e servi-me fartamente direto no gargalo. Encontrei um momento meio satisfatório até, parecia um perfume que passava pelas cortinas ressequidas da imaginação. Acendi outro cigarro e na intemperança do exato momento detive-me um pouco, mas que lugar estupendo esse. Recostei bem confortável no sofá, o peito apertava de verdade e o coração parecia que ia explodir, alcancei as pílulas da pressão na mesinha e engoli com outro gole farto no gargalo. Deixei-me ficar no torpor alguns segundos.
O braço foi pendendo e adormecido ficava cada vez mais flácido e pesado, deixei escorregar e apoiei o cotovelo contra uma almofada rota. Sentia a garrafa escorreganto muito lentamente da minha mão, tentava aumentar a pressão para rete-la, mas era impossível. O nó do peito foi apertando cada vez mais, lembrei das pílulas para circulação na cabeceira da cama no quarto e não conseguia me mexer. A garrafa escorregava, o nó apertava o braço dormia. Vai cair, vai cair, vai cair... infinitamente meu cérebro repetia a informação para minhas mãos doentes, irrelevante informação. Senti somente o líquido gelado, fervendo seu gás na sola dos meus pés e o torpor pleno absoluto dos que morrem de morte implorada, a satisfação dos que alcançam a realidade.
Encontraram-me dias depois, completamente roxo, em estado de putrefação, cagado e mijado, uma garrafa de cerveja caída aos pés e os comprimidos que achava que tinha tomado nas mãos. O cenário degradante era amenizado por um leve sorriso nos lábios que denunciavam alguma satisfação ou prazer. E era.
Obrigado Senhor, finalmente morri.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Digno Orgulho, Um Manifesto!



Pula comigo?
Quem está aí?
Pode brincar?
Cadê meu negócio?
Assim escrevendo o pré disposto
a energia ganha forma e matéria.
O infinito tem agora cor e forma
e doce e cheirinho de fruta.
A felicidade em seu instante máximo,
é o que se tem para satisfazer a alma,
só uma absurda felicidade total e completa,
irrestrita e fundamental enquanto algo irrevogável.
A realização encontra vários caminhos ocultos
enquanto ainda consegue ser texto inacabado,
arte em esboço o essencial ainda infrascado no impossível.
Nessa hora o mais importante somente é o crer,
em vista da ciência mais inexata,
da sabedoria mais arcaica,
pormenores infindáveis
e exceções gloriosas,
a confirmação de uma regra básica:
a felicidade mora no transparente.
Segui, então, em paz,
todos nos que seguimos,
enquanto o inatingível se torna básico,
pular é só uma questão de desprendimento!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

no meu pensamento esses zumbis




No meu pensamento esses zumbis.
Esses zumbis pelo meu corpo.
Pelo meu corpo as feridas inflamadas.
Coleção de rimas desencontradas.
O desencontro rimas a fora,
movimentando as vidas nossas.
A distância que me faz muito bem perto
quando eu penso na mudança
a mudança no pensamento.
No meu pensamento.
No meu pensamento aqueles zumbis.
Eles me acordam durante a noite
e me atiram na escuridão.
Sigo zero gravidade, sem coragem.
Onde foi parar meu mundo,
tema e poema?
De que maneira termina a cena?
Da maneira mesma que se termina a mesma cena.
Crucificada pela alma sem tema.
Com um caderno branco de palavras apenas pensadas.
Minha sorte imaginada,
a planta nascida na calçada quebrada.
A gota nascida da garganta amarrada.
Todos os versos crescidos no descampado da alma.
Na densa floresta das obrigações.
O mel que brota sem favo.
Se pular do arranha céu vai doer, ainda há de doer menos,
bem menos, muito menos
do que continuar nesse pesadelo,
sonhando o acordado fardo
de viver escrevendo, vivendo
e sendo.
Alma à pena dada,
lixo sendo varrido pela calçada.
No último verso dessa embolada
o final da cena questionada.
De meus punhos a rubra cachoeira
a bebedeira dessa eterna saidera.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

when something breaks




Quando alguma coisa quebra
de inestimável destempero
sofre-se como poucos,
cada um em seu próprio,
destino ou livre
tanto que se faça há muito ainda
e ainda e ainda muito.
matéria que somos e reagimos,
nossos únicos tendem unidade fundamental,
ou seja, uma prece:
Plumas e Fitas,
eólicas estruturas divinas,
não deixem o uno involátil,
sublimem montanhas e cenários,
em prece e luz rogo,
em prol de um uno misto,
pastagem ou relva,
sépia ou prelúdio,
capitania ou sossego,
em prol de um uno misto,
em prece e luz rogo,
sublimem montanhas e cenários,
não deixem o uno involátil,
eólicas estruturas divinas,
Plumas e Fitas.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Amém Primavera




Vim dizer o que nasce,
incrível seria pouco ou quase nada,
salvação vindoura meu plantio
nas esquinas onde nada há,
pura semente colheita formosa
e ainda assim sem devastar o seringal.
Não sei de plantas, talvez
de repente, sabe-se lá,
alguma criança que ensine sobre ser.
Talvez alguma criança,
ainda que tardia mostre o como,
sempre assim sempre sim.
talvez enquanto eu criança de mim
durmo em pastos e rios e árvores
de meu pai,
consigo construir um todo belo,
sempre que sim, sempre que não,
a importar somente a vida,
espero apenas que uma criança me ensine...
Amém Primavera.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

os pelos crescem




Os pelos crescem no contorno de um rosto que não é mais face.
Abaixo dos olhos negra mancha contrasta clara pele ressequida.
Os anos vão-se passando em larga escala, calar o peito robusto.
Para conferir os aferidos dias que se passam, a cama soluça um pranto nela impresso.
Faço leito todo o peito derramado nos lençóis de pura dor e desesperança.
O futuro que chega, em verdade não chega se aplaina de passado.
Os versos não me poemam, corrompem-me a virgindade do feliz viver,
riem da maldade e soluçam de palmar exposto ao turbilhão das emoções.
Por fim não há poema, nem sono, nem pranto.
Somente a poça de vomito sujando o chão da minha cara.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Sonho que te dou.



Olha corre pra ver,


o presente que te dou.
Te trouxe o sonho,
vou ser teu par de letras:
lá.
Vamos!...
Dê-me a mão, o coração.
Seus olhinhos pequeninos
em cílios acolhidos
que te vestem o sorriso.
Como belo casado com lindo.
E tuas mãos a me correr a alma corpo a fora.
Tuas mãos dentro do meu peito,
entre o cérebro que sonha em vigília.
Na pura solidão o pensamento meu refém por mim.
São meus sonhos por teus braços displicentes.
Tal o dia da esbarrada do meu sorriso,
da minha charada...
A mais perversa afirmação
no melado doce.
Meus delírios nos teus ouvidos,
nosso sono conquistado em soluço,
feitiço,
o sangue mestiço dos enluarados protegidos,
pelo sol seguidos e perseguidos,
longos dias de céu azul e limpo.
Durante a também reluzente madrugada...
dessas noites de sono pensado e inconquistável.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

o malévolo social



o malévolo social é oculto,
nem sombrar se deixa permitir
caminha os não passos
e pensa em não palavra,
ainda sim,
desencadeia o inerente,
conversa em inaudível
e enxerga além do ver.
É isso mesmo,
o malévolo social é oculto.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

sobre inquietação, pormenores e fundilhos




acontece todo tempo
todo tempo o tempo todo, tudo acontece.
ocasos casos de se juntar ao retorquido
o linho passado engomado ou noutros tantos.
seguir a frente pelos planos ou soluções equitativas.
de repente soubesse o quanto grão há no milho.
ainda sim, o passo semi serrado
orienta uma soberba inquietação:
refletir os doravante
ou pormenorizar as intempéries.
quem sabe?
acerca de beneméritos e pompas,
fundilhos puídos.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

agradeço




agradeço ao samba,
por me fazer companhia quando os batimentos
se tornam supérfluos.
agradeço a Deus,
por espreguiçar essa manhã,
a boa noite de ontem,
o boa tarde de amanhã.
agradeço meus pais,
os mais gladiadores conflitos
forjam os mais bravos guerreiros.
agradeço a inspiração,
por tornar-me menos humano,
menos carne, menos osso, menos matéria.
agradeço a maresia
a compor eternos acontecimentos
na fronte de quem não se deixa anestesiar.
agradeço ao mal, a escuridão e aos cacos do caminho,
esses pedaços de vida,
capazes de me apresentar o bem, a luz e os inteiros caminhos.
agradeço ao impossível, esse anjo torto da perfeição,
a tornar momentos como esse.
o agora,
o que seja esse e não aquele possível,
Obrigado.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

sim, é minha




Sim. É minha
É minha essa mão vil que te afaga.
É minha também essa boca na qual escarras.

Fui eu quem a apedrejou.
Contudo, porém, também fui eu
quem a acompanhou nesse mar.
Amarrado no porão dessa nau.
Rastejamos juntos da lama ao caos.

Desculpe-me ou não essa é a minha vida.
Uma lembrança que não termina.
Segue então tua desgraça que eu sigo a minha.
Mas não guarde a lembrança,
que tanto nos sacrifica,
guarde apenas essa ferida,
que não mata nem cicatriza.

(Inspirada no poema “Versos Íntimos” de Augusto dos Anjos.)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

saudade ao molho pardo




Sentei-me à mesa
e logo a esperança veio a servir-me.
Levou tempo até a realidade
nos interromper.

O amor sentou-se numa mesa próxima.
Chegou acompanhado da paixão,
que mordiscava-lhe o pescoço
e dizia
sandices ao pé do ouvido.
Arrepiado e bem corado,
o amor deixava-se ficar

Entorpecido vi-me
refletido no
precário casal.

A realidade calou-se,
voltei a ter com a esperança.

Fitei-a nos olhos e pude ver
realidade refletida.
Já maculado por aquele reflexo,
ordenei:
- Quero saudade ao molho pardo!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

calei o vértice




Calei o vértice,
pois de exata não há métrica possível para defini-la.
Apaguei têmporas, lóbulos e frontes desterradas.
Desliguei as plumas, penachos e paetês,
desisti dos castelos, barcos e taças.
Nada a dosá-la.
Não há instrumento capaz de medir a exatidão,
o despautério ou os pretextos da sua beleza.
A beleza de ser simplesmente encanto,
encantadora de virtudes, momentos e sensações.
Acendi e ascendi ao plano das incautas criaturas
que inevitavelmente por ti se apaixonam.
Enquanto meu passo é só uma mentira,
fica a verdade para o caminho, a realidade para o destino.
Luz plena e absoluta de inverno,
tua brancura é meu destino
e nossas arestas o trunfo para a vitória.