terça-feira, 17 de agosto de 2010

Entre as tintas e o trabalho.


Trouxe tintas para quando nada houvesse,
nem a possibilidade do penso fosse possível encontrar os moços.
Mas qual?
Zero.
Nem vontade, nem onda, nem capricho,
só minhas unhas roídas no toco,
o ventre dilatado, meus cabelos crepos e desgrenhados,
a cinzidez da pele e o amarelo dos olhos.
Muitos tons para pouco retoque.
Não deve haver tanta tinta assim no mundo
capazes de compor um cenário meu,
acho que não.
Mais, há mais.
Minha sensação de ser alguém ou no mínimo a possibilidade,
como se fosse democrático existir.
Se não houvesse os seres humanos invisíveis,
os vistosos morreriam de pavor sem o saber.
Resta-me apenas ser mesmo rota
e maltrapilha, suja e puta.
Meu lugar no mundo designado
foi ficar longe do social, dormir ao lado do "boi",
administrando as mirongas de novas pestes e doenças,
entremeios de um complexo que não vem ao caso.
(SCHULAPT)
Detesto tapa na bunda, odeio, abomino de com força.
É vinte e cinco, falei.
Complementei doce e manhosamente -
Vâmu fazê un amôzin gostoso, vam?
Deitei como quem dá-se ao mundo inteiro,
fixei os olhos nas minhas tintas
e por quinze minutos me mudei da cama para o caderno,
meu lugar de ser pessoa.

Um comentário:

  1. Muito bom, sensacional meu amigo. Parabéns, quero dar meus pulos literários por aqui também...

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